"Toda a vanguarda é uma vanguarda midiática"

cassioprates
3 min readJan 21, 2024

Um pouco sobre as semanas de moda moda masculina

conteúdo ilustrado no IG https://www.instagram.com/gid.estudio/

Todas as vanguardas, são de certa forma, vanguardas midiáticas. Essa constatação é de Mckenzie Wark, no pr efácio atualizado de "Um manifesto Hacker", publicado recentemente em português pela Funilaria. Podemos pensar no Surrealismo, Dadaísmo, Pop Art e na Tropicalia como vanguardas midiáticas, mas também, a impressão, o cinema e, obviamente, a internet e suas evoluções. Esse raciocínio, parece ser uma questão importante para as semanas de moda masculina, em Milão & Paris nos últimos 10 dias. A tentativa de criar uma relevância midiatica e, consequentemente, de vanguarda é inerente. Embora os desfiles continuem lá, naqueles mesmos lugares e formatos, as roupas, na sua maioria, buscando reconhecimento imediato e vendas, é na exposição que as marcas colocam a maior energia da temporada.

Talvez exposição midiatica não seja a melhor palavra, até pq não é de hoje q marcas precisam aparecer mais e mais. Nessa temporada a tentativa foi de criar novas maneiras de pensar sobre essa exposição frenética, indo na contra-mão, ou até mesmo tentando encontrar outras formas, menos óbvias, de chamar atenção.

Isto é parte da discussão sobre o papel dos influencers e as novas apostas das marcas para continuarem sendo relevantes além de alguém, de alguma mídia ou rede social. Quase como encontrar as energias renováveis das redes sociais e seus cacoetes fast-fashion,

Aí, que a Prada fala de outras naturezas e outras culturas, de como devemos perder o protagonismo enquanto donos da natureza e assumir um novo modelo de vida. Faz isso propondo um novo heritage misturado com referências de esporte aquáticos _ esse movimento foi explorado no report aberto de 2023 do Gid. Novos mergulhos, buscando uma vanguarda mais livre de vídeos super rápidos ou daquele job-olha-quem-tá-aqui.

A Gucci, de Sabato de Sarno, chega no seu primeiro desfile masculino com peças iguais as apresentadas no feminino e uma campanha só com new faces. Associado à isso, a escolha de embaixadores com perfis mais "soft boys", como Paul Mescal e campanhas abertamente gays no IG e TikTok (embora não pareça ainda é algo ousado pra uma marca grande). Tudo isso combinado com uma estética discreta e um remember da era Tom Ford, inédita para novos consumidores, mas de um jeito muito mais vulnerável, trazendo suavidade e fragilidade na sua construção.

Martine Rose, uma vanguardista midiatica desde sempre, chamou toda sua equipe pra o bar latino, na área 18 de Paris. A expectativa era a exibição de um vídeo-desfile que havia acontecido em Londres, duas semanas antes. Um desfile / ball, com amigos da marca, suas filhas e fundamentos da noite. Celulares não eram permitidos em ambos os momentos. A grande surpresa é que o desfile aconteceu, também em Paris. Enquanto o vídeo da apresentação de Londres rodava, aquelas mesmas pessoas apareciam no bar, criando essa colagem entre o espaço físico e a projeção. Sobre a questão dos celulares, Martine disse que não queria que o foco fosse outra coisa senão aquele momento de transformação e prazer.

Quem também fez uma colagem foi JW Anderson, que é vanguarda no pensamento de novas mídias desde a pandemia. O estilista fala de como o sonho americano foi incorporado como um sonho global, graças as mídias daquela época e, que hoje esse sonho está na internet, na pilha de conteúdos e fotos acumuladas. Esse universo " plano" que tudo é uma coisa só, aparece nas roupas, construídas como uma única peça, o que limita uma grande possibilidade de diferentes looks e a quantidade de imagens de conteúdos publicados sem parar; e é subvertido no cenário, com as colagens do artista americano Richard Hawkins projetadas em movimento, num um cenário de igreja, Uma sobreposição das duas grandes instituições midiaticas desse e do século passado. O que deixa tudo mais legal é que o artista apresenta nas suas colagens, fotos de famosos q estão na primeira fila, com imagens e pinturas homoeróticas, questionando qual mídia, ou seria qual igreja, estamos construindo hoje no mundo? Ou, se os rostos da primeira fila são os novos Santos da temporada?

— bj

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